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A espiritualidade das pessoas idosas e as raizes do santo povo fiel de Deus

P. Alexandre Awi Mello
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A espiritualidade dos idosos e as raízes do santo povo fiel de Deus 

Palestra no Congresso Internacional de Pastoral da Pessoa Idosa

Pe. Alexandre Awi Mello, ISch.

Secretário do Dicastério para os Laicos, a Família e a Vida

Para o nosso dicastério, ocuparmo-nos da pastoral dos idosos significa dar atenção, ao mesmo tempo, aos leigos, à família e à vida. Parodiando um ditado brasileiro, nosso dicastério, com este congresso, “mata três coelhos com uma cajadada só” (o ditado diz dois). O “matar” aqui, naturalmente, é simbólico… Ou seja, atingimos três objetivos ao mesmo tempo: cuidar e dar protagonismo aos idosos significa cuidar e dar protagonismo aos leigos, às famílias e à vida humana. A realização deste primeiro congresso internacional de Pastoral da Terceira Idade (como é chamada no Brasil) é, portanto, uma forma de prestarmos atenção aos leigos em uma etapa muito importante das suas vidas, resgatar o valor e importância que têm nas suas famílias e mostrar atenção a uma fase da vida humana que necessita de tantos cuidados e tem, ao mesmo tempo, grande potencial evangelizador.

Como sabem, o programa do nosso congresso está dividido em três seções. Na primeira falamos em geral da “Igreja e os idosos”, na segunda concentramos nossa atenção na relação da “família com os idosos” e nesta terceira e última seção estamos falando da “vocação dos idosos”, ou seja, do especial chamado e missão que os idosos têm dentro da Igreja e da sociedade. Agradeço a bela palestra de Sua Eminência Cardeal José Tolentino de Mendonça, que introduziu a reflexão sobre este tema. Minha tarefa é agora aprofundar em uma dimensão específica da vocação dos idosos: ser raiz, memória viva, guardiões e transmissores de uma herança fundamental para a vida do Povo de Deus em meio aos povos da terra. Neste sentido, como agentes de pastoral, partimos da base de que existe uma espiritualidade e uma vocação próprias da terceira e da quarta idade, a qual precisamos conhecer e cultivar explicitamente.

O título da minha exposição é a “espiritualidade dos idosos e as raízes do santo povo fiel de Deus”. Estes são temas muito queridos ao Papa Francisco e se poderia falar muito sobre o assunto, mas tentarei ser sintético, dividindo a exposição em quatro partes:

ü  Espiritualidade dos idosos

ü  Idosos, raízes do santo Povo fiel de Deus

ü  Raízes da espiritualidade popular

ü  Raízes da sabedoria popular

1.      Espiritualidade dos idosos

O envelhecimento da população mundial, já tantas vezes mencionado neste encontro, tem levado alguns teólogos e agentes de pastoral a se perguntarem pela espiritualidade específica que acompanha esse processo. Segundo Leo Karrer, em seu livro “Fé que amadurece – Espiritualidade na velhice”[1], a espiritualidade, que é sempre um conceito difícil de definir, tem a ver com o processo vital pelo qual cada ser humano procura criar uma relação significativa consigo próprio, com o seu semelhante e com o meio ambiente. Tem a ver também com a experiência de sentido ou falta de sentido que cada um realiza na sua vida pessoal e comunitária. Desta forma, normalmente vem associada com a experiência religiosa, embora possa existir uma busca de espiritualidade dissociada da relação direta com Deus, a fé e a religião (por exemplo, nas experiências exotéricas). Seja como for, cada etapa da vida pode ser associada com buscas diferentes de sentido e experimenta variações na sua relação consigo, com os demais, com o ambiente, com Deus e o sentido da existência. Assim também o confronto com as últimas etapas da vida e com a morte vem acompanhado de uma espiritualidade correspondente.

Trata-se de um período vital que convida a mergulhar em profundidade nas grandes perguntas da existência, com suas polaridades e contradições. A pessoa se torna mais consciente dos seus limites, suas utopias e ideais se tornam mais realistas, experimenta o anseio de viver em plenitude, mas na prática constata a fragmentação da vida. Aprende a dar pequenos passos no presente, com momentos de abandono e de entrega. A vivência desta etapa tão existencial muitas vezes vai acompanhada de uma busca consciente ou inconsciente de experiências de sentido e pode conduzir a um encontro mais intenso ou a uma redescoberta de Deus, da fé, da religião.

A pastoral dos idosos deveria estar atenta para aproveitar esse momento, pois a fé cristã pode dar uma contribuição fundamental para a espiritualidade dos idosos. Envelhecer é uma oportunidade para crescer na esperança, é uma ocasião para reforçar o amor a Deus e ao próximo, sejam eles familiares, amigos ou a comunidade cristã, é um ensejo para aprofundar ou redescobrir a fé. É tempo para, como Santo Agostinho, repousar o coração em Deus.

Em algumas culturas estamos acostumados a conviver com idosos “cheios de fé”, mas nos países ocidentais esta realidade vai se tornando cada vez menos comum. Países marcados por um forte secularismo ou pelo comunismo têm produzido gerações inteiras de ateus ou de pessoas com fé muito frágil e insipiente. Por isso, se por um lado ainda temos a experiência de encontrar muitos idosos que dão profundo testemunho de fé, não devemos considerar que a fé dos idosos é evidente ou “automática”. Sua espiritualidade, na verdade, precisa ser cultivada, constantemente aprofundada e até mesmo descoberta. Lembro-me de, ainda como seminarista, ter acompanhado um ancião moribundo que me dizia, com pena, que era ateu e que “gostaria de ter fé, porque seria mais fácil, mas não conseguia acreditar”. Nunca mais esqueci essa forte experiência.

Portanto, a boa nova de Jesus vale também para os idosos. O Senhor quer encontrar-se pessoalmente com cada um, manifestando-se a eles como salvador, dador de sentido para suas vidas e convidando-os a segui-lo como discípulos e missionários. O confronto com o crucificado ajudará no confronto com as muitas cruzes pessoais e familiares. A certeza da ressurreição e a entrega a Deus, apesar das perguntas de sentido nem sempre respondidas, são experiências fundamentais para quem vive uma etapa vital marcada pelo “balanço de vida”, pelo aumento da fraqueza física e da possibilidade de adoecer, pelo confronto com a morte dos demais e a – às vezes desconcertante e surpreendente – com a descoberta da possibilidade da própria morte.

Na busca de compreender melhor a espiritualidade dos idosos e a correspondente ação pastoral que pode estar ao seu serviço, Leo Karrer diferencia claramente entre a terceira e a quarta idade.[2] Nos nossos dias, idosos da terceira idade ainda são muito ativos e, com frequência, exercem protagonismo em nossas comunidades. Muitos dedicam bastante tempo a atividades de voluntariado. Somos testemunhas de que muitas comunidades eclesiais simplesmente não existiriam sem o trabalho voluntário, caritativo e evangelizador de tantos idosos que são sua alma e motor. Já a quarta idade está, em geral, mais marcada pela presença de doenças e limitações físicas e psíquicas, que demandam um acompanhamento específico. Aqui, por exemplo, ganham especial significado as visitas domiciliares ou às instituições de acolhida, o acompanhamento espiritual, a vivência cuidadosa dos sacramentos (Eucaristia, Reconciliação e Unção dos Enfermos), como também uma boa preparação para o momento crucial da passagem à eternidade.

Junto à esperança e a fé cristãs, partindo da base de que “quanto mais somos cristãos, mais humanos devemos ser”, os idosos deveriam ser convidados a viver uma espiritualidade que cultive também atitudes humanas saudáveis. Alguns estudiosos tentam comprovar que uma longevidade saudável está associada a condutas e atitudes que geram emoções positivas. É o caso, por exemplo, do geriatra argentino Dr. Juan Hitzig, professor da Universidade Maimonides (Buenos Aires), que ficou conhecido pelo seu “alfabeto emocional”. Em seu livro “Cinquenta e tantos” afirma que por volta dos 50 anos atingimos o ponto biológico determinante que definirá a forma que envelhecemos. Tendo estudado durante anos as características de pessoas saudáveis com idade bem avançada, chegou à conclusão de que todas elas tinham algo em comum em suas atitudes e formas de conduta, sendo em geral pessoas ativas, sociáveis e sorridentes.[3] Falando em forma bem popular, poderia dizer que essas são as condutas que distinguem o idoso do velho.[4] Isso também é espiritualidade.

Gostaria de explicitar agora a vocação espiritual dos idosos no seu significado para a sociedade, ou seja, para o povo onde estão inseridos, e o valor da sua espiritualidade para a Igreja, o santo Povo fiel de Deus, pois este deveria ser o acento particular da reflexão que me foi confiada.

2.      Idosos, raízes do santo Povo fiel de Deus

A expressão “santo povo fiel de Deus” é muito usada pelo Papa Francisco. Contudo nem sempre se entende o seu significado. O sacerdote jesuíta argentino, Juan Carlos Scannone, recentemente falecido e que tinha sido inicialmente convidado a fazer a presente palestra, afirma que “a categoria ‘povo’ é ambígua, não por pobreza mas por riqueza.”[5] De fato, a palavra “povo” ou “popular” em português ou espanhol (pueblo, popular), especialmente na América Latina, se pronuncia com um sabor especial.[6] Não temos tempo para explicar aqui esta diferença, mas essa advertência é importante porque muitas vezes, em algumas latitudes, não se entende e se interpreta mal a linguagem usada pelo Papa. Pueblo não é somente “toda a gente”, mas um grupo humano organizado, com memória, cultura y valores compartidos, ou seja, com raízes próprias. O povo é o sujeito comunitário de uma história (com experiências concretas, consciência coletiva e projeto comum, nem sempre explicitado) e de uma cultura (entendida como estilo de vida, como um núcleo de sentido último da vida, com símbolos e costumes que o expressam, estruturas e instituições políticas e econômicas que o configuram). Consequentemente, povo é uma categoria primariamente histórico-cultural.

Confrontemo-nos simplesmente com o seu uso em Evangelii Gaudium. Ali o Papa Francisco explica que para manifestar a sua salvação a cada ser humano Deus criou um caminho: “Escolheu convocá-los como povo, e não como seres isolados. Ninguém se salva sozinho, isto é, nem como indivíduo isolado, nem por suas próprias forças. (…) Este povo, que Deus escolheu para Si e convocou, é a Igreja” (EG 113). A Igreja é, assim, “fermento de Deus no meio da humanidade” (EG 114), porque o “povo de Deus encarna-se nos povos da Terra, cada um dos quais tem a sua cultura própria” (EG 115).

Lucio Gera,um teólogo argentino que foi referência para Francisco, aplica este conceito de encarnação tanto no plano subjetivo do Povo de Deus nos povos, quanto no plano objetivo da fé na cultura.[7] “Nessa encarnação os sujeitos coletivos Povo de Deus-povo(s) se unem por meio dos conteúdos da fé na dimensão religiosa-moral da cultura.”[8] Por isso Gera diz que “a fé cristã…há de se encarnar na religião do povo”[9].

E, em tudo isso, os idosos têm uma vocação especial: tanto como cidadãos em meio ao seu povo, quanto como batizados integrantes do santo Povo fiel de Deus, possuem um papel insubstituível na vivência e transmissão da cultura, da fé, das tradições e valores humanos e religiosos.

De fato, em EG o Papa Francisco também introduz o conceito de “cultura”, que é muito importante na hora de pensar a evangelização. “O ser humano está sempre culturalmente situado: ‘natureza e cultura encontram-se intimamente ligadas’ (GS 53). A graça supõe a cultura, e o dom de Deus encarna-se na cultura de quem o recebe” (EG 115).[10]

Neste horizonte de compreensão é fácil entender a importância dos anciãos, das gerações mais velhas. Tal como têm uma missão cultural dentro de cada povo, podem colaborar na missão evangelizadora. Dentro de um povo, a transmissão dos valores culturais se dá de geração em geração. São nossos pais e avós que nos transmitem os valores da nossa cultura, da cultura do nosso povo. Em muitos dos nossos países essa cultura foi marcada também pela mensagem do Evangelho. Nesse caso, ao transmitir os valores culturais, pais e avós transmitem também valores cristãos. A sabedoria dos nossos anciãos está carregada de elementos culturais e religiosos, parte da tradição e da experiência acumulada de todo um povo, que muitas vezes é também a experiência do santo Povo fiel de Deus em meio aos povos da terra.

Como testemunho pessoal posso precisar o momento em que me dei conta da importância desta transmissão de fé, enraizada nos mais velhos. Era o segundo domingo de maio, que no Brasil se celebra o “Dia das Mães” e me tocou fazer a homilia na Missa das Crianças. Foi minha primeira homilia sobre o tema, pois era ainda diácono. Num esforço de captar a atenção das crianças, me atrevi a perguntar-lhes em alto e bom tom: “Vocês rezam? ” E todas: “Sim! ” E, com a intenção de fazer uma homenagem às mães presentes, continuei: “E com quem vocês aprenderam a rezar? ” E, para minha surpresa, em um coro quase ensaiado as crianças responderam a uma só voz: “A vó”! Para me livrar do embaraço emendei: “Claro! A vó é mãe duas vezes! ”

3.      Raízes da espiritualidade popular

Na sua exortação apostólica Christus vivit, Francisco usa uma bela imagem para se referir a essa vocação dos idosos. Fala de “árvores jovens, belas, que elevavam seus ramos sempre mais alto para o céu; pareciam uma canção de esperança”, mas que “depois duma tempestade” se encontram “caídas, sem vida. Estenderam os seus ramos sem se enraizar bem na terra e, por ter poucas raízes, sucumbiram aos assaltos da natureza” (ChV 179). Todo o capítulo 6 da sua exortação se intitula “Jovens com raízes”, pois é impossível propor “aos jovens construir um futuro sem raízes, como se o mundo começasse agora” (ChV 179).

Os anciãos têm então a vocação de ser raízes para as novas gerações, raízes históricas e culturais, mas também raízes existenciais. Os jovens precisam de fundamentos firmes para crescer, pois sem essas raízes fortes, não conseguem estar firmes na vida, não têm onde se firmar, se agarrar a valores e convicções, facilmente se desenraizam e se extraviam. Os que trabalhamos com jovens percebemos imediatamente se eles vêm de uma família firme, estruturada, que – mesmo em meio a dificuldades e pecados (porque nenhuma família é perfeita) – lhes oferece segurança existencial, raízes profundas ou não.

Por outro lado, o Papa Francisco chama a atenção dos jovens para que não se deixem arrancar da terra dos seus antepassados. Ignorar a história deixando de lado a “experiência dos mais velhos”, rejeitando a “riqueza espiritual e humana que se foi transmitindo através das gerações” e olhar apenas para o futuro é se expor à manipulação das ideologias de turno (cfr. ChV 181). Por isso o Papa exorta: “Assumi as vossas raízes! Mas não vos limiteis a isto. A partir destas raízes, crescei, florescei, frutificai.”[11]

A globalização, junto com seus muitos efeitos positivos, pode em muitos contextos acarretar diferentes “formas de colonização cultural, que desenraízam os jovens das origens culturais e religiosas donde provêm” e geram uma verdadeira perda de identidade cultural e religiosa (cfr. ChV 185). Neste contexto, pais e avós (os idosos em geral) têm a missão de transmitir, de forma simpática, sem gerar rechaço, a memória, a riqueza viva do passado, a bagagem cultural da sociedade onde vivem, a beleza espiritual da fé em que cresceram. Este é um “um verdadeiro ato de amor” (ChV 187) para com as novas gerações.

Esse ato de amor expressa uma verdadeira vocação dos idosos como “guardiões da memória” e, como tais, raízes do santo Povo fiel de Deus em meio aos povos da terra. Ajudam assim os demais a estarem “bem enraizados no presente e, daqui, visitar o passado e o futuro: visitar o passado, para aprender da história e curar as feridas que às vezes nos condicionam; visitar o futuro, para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças” (ChV 199).

Ser raiz não significa ficar preso ao passado, como uma âncora que não deixa o barco navegar, mas um ponto de arraigamento para responder aos desafios do presente. Não serve olhar com saudosismo o passado, mas aprender do passado para encarar o presente e o futuro, “tomar a peito, com realismo e amor, a nossa cultura e enchê-la de Evangelho” (ChV 200), pois os anciãos têm uma missão evangelizadora para o tempo presente, não estão chamados a cruzar os braços e observar a vida que passa. Também eles são chamados a “descer da varanda” e, com a sabedoria acumulada pelos anos, testemunhar o Evangelho.

“Imagino os idosos”, declarou uma vez o Papa Francisco, “como o coro permanente dum importante santuário espiritual, no qual as orações de súplica e os cânticos de louvor sustentam a comunidade inteira que trabalha e luta no campo da vida”[12]. Portanto, encher a cultura de um povo de evangelho, como um verdadeiro santuário espiritual, é o que acontece quando uma avó ensina seu neto a rezar, quando convida a família a peregrinar a um santuário, quando lhes recorda a importância de rezar o terço ou fazer a novena de Natal. De fato, as expressões da religiosidade popular são formas muito concretas de espiritualidade particularmente presentes na vida dos idosos (mas não só deles), que constituem formas privilegiadas de transmissão cultural da memória e de expressão das raízes profundas do santo Povo fiel de Deus.

Na realidade, quando a cultura de um povo está impregnada de expressões religiosas, a fé se transmite naturalmente, quase que por “osmose cultural”. Longe de ser algo negativo, como pensam algumas pessoas que se consideram “teologicamente ilustradas”, as formas de religiosidade popular podem expressar uma verdadeira espiritualidade e mística do santo Povo fiel de Deus enraizada culturalmente.

Paulo VI em Evangelii Nuntiandi (1975) tratou pela primeira vez o tema da piedade popular em um documento pontifício, e o fez com una perspectiva muito positiva y equilibrada. O Papa incluiu a piedade popular entre as “vias” ou meios da evangelização, dizendo que esta realidade “não pode nos deixar insensíveis” (EN 48). Suas expressões, “consideradas durante longo tempo como menos puras, e às vezes desprezadas, … constituem hoje objeto de um novo descobrimento quase generalizado” (EN 48)[13]. Bem orientada, a “piedade popular” ou “religião do povo” é mais que uma simples religiosidade e pode significar “cada vez mais, para nossas massas populares, um verdadeiro encontro com Deus em Jesus Cristo.” (EN 48). Muitas vezes o Papa Francisco já afirmou que Evangelii Nuntiandi deu um passo importante falando não só de religiosidade, mas de piedade popular. E destaca que o Documento de Aparecida deu um novo passo, mudando duas palavras. De piedade popular passamos a falar (o Papa fala em plural porque colaborou ativamente nessa parte do documento) de espiritualidade e mística populares.[14]

O Documento de Aparecida apresenta as expressões concretas dessa espiritualidade” popular, palavra que não é neutra, pois se refere à ação do Espírito de Deus nela. O documento valoriza as peregrinações aos santuários[15] e as manifestações sensíveis de piedade como os olhares, os beijos e toques nas imagens sacras (DA 265). O peregrino vive assim a experiência da transcendência de Deus e da Igreja (DA 260), e se torna missionário, pois peregrinar é “um gesto evangelizador pelo qual o povo cristão se evangeliza a si mesmo e cumpre a vocação missionária da Igreja” (DA 264).

O texto deixa claro que a piedade popular não é uma “espiritualidade de massas”, mas da luta quotidiana (DA 261), pois é uma legítima forma de espiritualidade encarnada na cultura dos simples (DA 263), una forma própria de viver a fé, de sentir-se parte da Igreja e de ser missionários (DA 264). Por tudo isto, “não podemos desvalorizar a espiritualidade popular, ou considerá-la um modo secundário da vida cristã, porque seria esquecer o primado da ação do Espírito e da iniciativa gratuita do amor de Deus.” (DA 263). Daí a importância de “aproveitar mais o rico potencial de santidade e de justiça social que encerra a mística popular” (DA 262). Observa-se que o acento (do documento) não está colocado em purificar e modificar a religião do povo, mas no seu potencial missionário. Papa Francisco assume toda essa visão em Evangelii Gaudium 122 a 126, quando discorre sobre a força evangelizadora da piedade popular.[16]

Para a teologia que está por trás dessas afirmações – também conhecida hoje como “Teologia do Pueblo” – as vivências religiosas de um povo (ritos, festas, costumes) não são um caos irracional, mas um conjunto simbólico coerente, pelo qual se expressa seu sentido de busca do Sagrado. Para evangelizar a Igreja deve alcançar esse núcleo simbólico, religioso-cultural do povo, é ali “onde a Igreja deve implantar a fé”[17].

Os idosos, raízes do santo Povo fiel de Deus, são especialmente guardiões desta espiritualidade popular. Portanto, no contexto da nossa reflexão, se trata aqui de (re)valorizar o papel que os anciãos têm na transmissão desta espiritualidade, o que não deveria ser considerado como algo secundário na experiência religiosa do santo Povo fiel de Deus.

Convém, contudo, fazer ainda uma última observação sobre esse tema. Seria equivocado reduzir o “popular” somente ao povo pobre ou como sinônimo de “povão”, como se fala no Brasil. Sem dúvida, a espiritualidade popular “traduz em si uma certa sede de Deus, que somente os pobres e os simples podem experimentar” (EN 48). Mas justamente este deve ser o acento: o coração pobre e simples, que independe da condição social. Quem tem coração de povo, quem tem o “prazer espiritual de ser povo” (EG 268-274), quem está enraizado no santo Povo fiel de Deus, tem a sensibilidade para entender, apreciar e cultivar naturalmente a espiritualidade popular que recém descrevemos.

As expressões da “fé popular” que, em geral, são vividas por gente simples e pobre, “manifestam a mesma experiência de outros ‘setores’ do mesmo Povo de Deus, nem tão ‘populares’ nem tão pobres”[18], afirmava o jesuíta Miguel Angel Fiorito, grande inspirador do Papa Francisco. Ele dizia que ao arranhar as paredes dos apartamentos elegantes do bairro norte de Buenos Aires, se encontra com frequência a fé simples do Povo fiel de Deus. [19] Por exemplo, os santuários marianos – em particular aqueles que são mais significativos para um povo – dão testemunho de que a casa da Mãe é a casa de todos.[20]

4.      Raízes da sabedoria popular

Como portadores da espiritualidade popular os idosos expressam sua vocação de ser raízes também da sabedoria de todo um povo. Em Chrisus vivit o Papa recordava a importância de estar “aberto para recolher uma sabedoria que se comunica de geração em geração” (ChV 190), pois a ruptura entre as gerações não é de proveito para ninguém: “São cantos de sereia dum futuro sem raízes, sem arraigamento. É a mentira que deseja fazer-te crer que só o novo é bom e belo. A existência das relações intergeracionais supõe que, nas comunidades, se possua uma memória coletiva, pois cada geração retoma os ensinamentos de quantos a antecederam, deixando assim uma herança aos seus sucessores. Isto constitui quadros de referência para alicerçar solidamente uma sociedade nova. Como diz o ditado: ‘Se o jovem soubesse e o velho pudesse, não haveria nada que não se fizesse’.” (ChV 191)

Como o tema do diálogo intergeracional já foi tratado amplamente neste congresso, não entrarei em detalhe. Aqui importa abordar o tema desde a perspectiva da “sabedoria de vida” que se transmite entre as gerações. Nossa pastoral deve então ajudar os anciãos a recordar e contar suas experiências e seus sonhos, sem a pretensão de impô-los, mas como uma oferta de sentido e fruto de uma sabedoria vivida. Trata-se de reafirmar o sonho de bênção e felicidade que têm para seus filhos, netos e todas as futuras gerações da nossa sociedade, pois na vida necessitamos desta sabedoria, que “não pode estar confinada nos limites impostos pelos atuais recursos de comunicação” (ChV 195).

Neste contexto devemos considerar o valor da sabedoria popular, muito presente nessa transmissão religioso-cultural dos idosos às gerações que lhe seguem. La sabedoria popular é chave como mediação entre a fé do povo e uma pastoral inculturada. O conhecimento sapiencial não substitui o científico, mas o situa existencialmente, o complementa e o confirma. É um saber por “co-naturalidade”. Scannone foi um dos grandes promotores desta reflexão[21], como ele mesmo declara: “Um ponto chave para mim foi sempre a revalorização teológica e filosófica da piedade e da sabedoria populares, quando esta é autêntica sabedoria, assegurada por um discernimento evangélico e plenamente humano”[22]. Segundo ele, tê-la em conta é um grande desafio para a Igreja dentro e fora da América Latina.

Esta contribuição da Teologia do Povo foi assumida em Puebla, justamente na seção sobre a “Evangelização da Cultura”, escrita por Lucio Gera. Pode-se falar de cinco características da sabedoria popular, tal como aparecem em Puebla: Em primeiro lugar, é descrita como contemplativa, com um “profundo sentido da transcendência e, ao mesmo tempo, da proximidade de Deus” (DP 413). Em segundo lugar, é vista como um “humanismo cristão”, pois afirma a dignidade humana, a fraternidade, o vínculo com a natureza e o trabalho, e que, inclusive, tem sentido para “a alegria e o humor, mesmo em meio de uma vida muito dura” (DP 448; cfr. DP 413). Em terceiro lugar, a sabedoria popular se expressa especialmente na religiosidade do povo, pois esta guarda um acervo de valores que faz o homem do povo responder com sabedoria cristã às grandes perguntas da vida (cfr. DP 448). Em quarto lugar, a sabedoria popular católica é capaz de realizar una “síntese vital”, unindo “o divino e o humano; Cristo e Maria, espírito e corpo; comunhão e instituição; pessoa e comunidade; fé e pátria, inteligência e afeto” (DP 448). E finalmente, uma quinta característica é o discernimento que essa sabedoria proporciona ao povo, uma espécie de “instinto evangélico” (DP 448), na linha do que LG 12 chama o sensus fidelium.[23]

Gostaria de destacar esta capacidade de síntese vital do pensar popular católico. Por exemplo: unir Cristo e María é algo que não é difícil para a forma de pensar orgânica, unitiva, do povo fiel. Por isso Puebla indica que Maria “é o ponto de união entre o céu e a terra” e sem ela o Evangelho “se desfigura e se transforma em ideologia, em racionalismo espiritualista” (DP 301).

Já antes de Puebla, a equipe de reflexão teológico-pastoral do CELAM constatou: “É notório que grupos intelectuais do ocidente padecem de uma paralisia da sua capacidade de síntese, e o pensamento dicotômico, dissociativo, vai atomizando a cultura e a própria existência humana”[24]. É a forma de pensar que a teologia argentina (e o atual pontífice) chamaria de cultura “ilustrada”. Por outro lado, “a cultura popular brilha em sua capacidade de sentir e pensar de modo sintético e sapiencial, orgânico e vital. Assim, para o povo, resultam estranhas as oposições radicais tão comuns nas elites secularistas”[25]

A sabedoria popular e, com ela, a religiosidade ou espiritualidade popular, por instinto evangélico e graças à infalibilidade que lhe outorga o sensus fidelium, “não opõe a ação à contemplação, o compromisso à devoção, a hierarquia ao povo de Deus, Cristo a Maria, a fé à religião, a salvação à liberação, mas as integra numa síntese vital que é um propulsor insubstituível na ação pastoral”[26].

Os idosos têm uma capacidade especial para expressar essa síntese vital, pois existencialmente vivem um tempo de síntese, em relação tanto à sua vida pessoal quanto ao seu entorno. “Os anciãos têm sabedoria”, afirma Francisco tantas vezes. E continua: “Uma grande responsabilidade foi-lhes confiada: transmitir sua experiência de vida, sua história familiar, a história da comunidade, do povo”[27] “Se os deixamos de lado, perdemos o tesouro da sua sabedoria”, insiste o Papa. “Sentimos falta da sabedoria das pessoas que não só permaneceram firmes ao longo do tempo, mas que mantiveram a gratidão em seus corações por tudo o que viveram”. Por isso é importante que partilhem a sua sabedoria, pois “os nossos anciãos têm um reservatório de sabedoria para a nossa sociedade. Prestar atenção aos nossos idosos dá forma à nossa vida em comum”[28].

5.      A modo de conclusão: Maria-Isabel imagem feminina para uma Pastoral dos Idosos

Gostaria de concluir a presente reflexão com uma imagem bíblica. A jovem Maria de Nazaré, assim que se tornou consciente da sua missão, não duvidou em “levantar-se e partir apressadamente” (cfr. Lc 1,39) a servir sua prima idosa Isabel. E esta, por sua vez, não considerou a sua idade um impedimento para se fazer protagonista e cumprir sua vocação no plano de Deus.

Maria entrega sua força jovem para ajudar a sua prima, realiza gestos de amor e caridade, transmite a Isabel alegria, esperança, a força do Espírito Santo e, sobretudo, a presença de Jesus, que faz com que João pule de alegria; permanece ali três meses, cuidando dia e noite de todas as necessidades daquela família. Mas nesse encontro de corações, também Maria recebe muito de Isabel, é evangelizada por ela. Isabel profetiza e confirma a missão de Maria, a “crente”, aquela que acreditou: “Bendita és tu que acreditaste” (Lc 2,42). És a “Mãe do meu Kyrios (κύριος)” (Lc 2,43), palavra grega correspondente ao Adonai hebraico, reservada a Javé.

Isabel, com aquela sabedoria e espiritualidade profunda, própria do povo de Israel, dos anawin de Javé, confirma aquilo que o anjo Gabriel tinha anunciado a Maria, evangeliza Maria e a torna mais consciente da sua missão. O fruto do encontro é o Magnificat, o canto de um povo, verdadeira síntese da história de salvação, colocado por Lucas nos lábios de Maria e que, alguns poucos manuscritos antigos, chegam a colocar nos lábios de Isabel, indicando que tais palavras, enquanto exaltação da obra de Deus, poderiam brotar tanto da jovem como da anciã, pois na comunhão eclesial gerada entre elas, as duas são anunciadoras da salvação de Deus.

A jovem Maria se torna, assim, imagem da Igreja que serve os anciãos, com prontidão e generosidade, e a anciã Isabel se torna imagem de uma Igreja formada por idosos protagonistas da evangelização, que conta com a sabedoria e a espiritualidade dos anciãos e se apoia na sua experiência de fé e de vida. Uma pastoral dos idosos que serve os anciãos e vive da sua força evangelizadora.

Por fim, não é secundário o fato de que ambos personagens bíblicos sejam mulheres. Papa Francisco tantas vezes tem acentuado a importância do ser feminino da Igreja, que é Mãe e Mulher. Uma Igreja “mãe de coração aberto” (EG 46-49), que, “como Maria, é mulher e mãe – a Igreja é mulher e mãe –, e encontra em Nossa Senhora os seus traços caraterísticos. (...) Porque a Igreja tem um coração de mãe”[29]. O ser feminino de Maria e de Isabel é imagem de uma ação pastoral com traços e atitudes femininas e maternais, tais como o cuidado, a misericórdia, a acolhida, o amor e tantas virtudes facilmente reconhecidas facilmente nos rostos de nossas mães e avós, expressões carinhosas do rosto materno de Deus, sempre atento aos seus filhos mais necessitados.

 

 

[1] Leo Karrer. Glaube der reift – Spiritualität im Alter. Mit Gedichten von Maria-Christian Fernández. Freiburg: Herder, 2017, 49.

 

 

[2] Leo Karrer. Glaube der reift, 108-112.

 

 

[3] Juan F. Hitzig. Cincuenta e tantos: cuerpo y mente en forma, aunque el tiempo siga pasando. Buenos Aires: Grijalbo, 2016. Seu alfabeto emocional, parte do princípio de que determinadas atitudes geram serotonina – neurotransmissor que melhora a tranquilidade de vida, nos mantendo longe de doenças e reduzindo a taxa de envelhecimento celular. São as condutas “S”: serenidade, silêncio, sabedoria, sabor, sexo, sono, sorriso. As condutas “S” geram atitudes “A” – ânimo, amor, apreço, amizade, aproximação. Já outras atitudes envenenam o organismo provocando a liberação do cortisol, o poderoso hormônio do estresse, cuja presença prolongada no sangue é letal para as células arteriais e acelera o envelhecimento. São as condutas “R”: ressentimento, raiva, rancor, repressão, resistências. As condutas “R” geram atitudes “D”: depressão, desanimo, desespero, desolação. Aprendendo esse alfabeto emocional se logra viver mais tempo e melhor, porque o “sangue ruim” (muito cortisol e pouca serotonina) deteriora a saúde, oportuniza as doenças e acelera o envelhecimento. O bom humor, pelo contrário, é chave para uma longevidade saudável.

 

 

[4] “O idoso é quem tem muita idade, e velho é quem já perdeu a jovialidade. Idoso é quem ainda sente amor; velho é quem só sente saudade. Idoso é quem ainda se exercita; velho é quem apenas descansa e reclama. Idoso é quem ainda sonha; velho é quem apenas dorme. Idoso é quem tem um pouco mais de idade; velho é quem perdeu a capacidade de sonhar e se divertir. Idoso é quem ainda se renova a cada dia que começa; velho é quem se acaba a cada noite que termina. Idoso é quem ainda tem planos; velho é quem tem apenas recordações. Idoso é quem tem rugas bonitas, porque foram marcadas pelo sorriso e a alegria de viver. Velho é quem tem rugas feias, porque foram formadas pela amargura e o mau humor. Enfim: idoso e velho podem ter a mesma idade no documento, mas tem idade totalmente diferente na mente, no coração e nas atitudes”. (Autor desconhecido)”

 

 

[5] Juan Carlos Scannone. “Aportaciones de la teología argentina del pueblo a la teología latinoamericana (I),” Vida Nueva – Cono Sur 21 (3 a 16 noviembre 2013): 21-28, aqui: 24.

 

 

[6] O teólogo argentino Enrique Bianchi, explica que: “Para falar coletivamente de pessoas, o idioma espanhol oferece duas palavras que na Argentina soam com diferenças substanciais: pueblo y gente. Ambas se traduzem ao inglês como people perdendo assim a capacidade de significação naquilo que nos interessa ressaltar.” Para exemplificar, Bianchi usa o título da revista Time de julho de 2013, The peoble’s pope, que – segundo ele – oferece una tradução ambígua, pois se pode traduzir como el papa de la gente ou como el papa del pueblo, duas expressões que não significam a mesma coisa na Argentina. No país do Papa, explica Bianchi, “gente se usa para se referir a um grupo humano amorfo, uma massa, incapaz de ações coletivas. Já pueblo se entende no imaginário argentino como uma unidade de ordem. Uma comunidade orgânica, capaz de sentimentos e ações coletivas, que compartilha um estilo de vida e – o que es muito importante – que compartilha una história y um destino comum.” (Enrique Bianchi, “El Espíritu sopla desde el sur y empuja la Iglesia a los pobres,” manuscrito fornecido pelo autor com a tradução de: Enrique Bianchi, “Der Geist weht vom Süden her und drängt die Kirche hin zu den Armen,“ en Innovation armut: Wohin führt Papst Franziskus die Kirche?, ed. Magdalena Holztrattner. Innsbruck: Tyrolia, 2013, 51-61.)

 

 

[7] Lucio Gera compreende Lumen Gentium n. 13 se referindo ao Povo de Deus que se “encarna” nos povos da terra: “Si…el Pueblo de Dios transciende a todo pueblo, está llamado a encarnarse en todos los pueblos de la tierra…La Iglesia, Pueblo de Dios, transmite a los pueblos y culturas la fe. Éstos, por la fe y el bautismo, entran a formar parte del Pueblo de Dios, con sus culturas, con sus modos propios de vivir la única y universal fe de la Iglesia…En su implantación en todo lo humano la Iglesia se ajusta a la ley de la encarnación. Entendemos por encarnación aquella relación de la Iglesia con los pueblos y con los hombres, por la cual asume lo que en ellos hay de válido…purifica lo negativo y eleva.” (Lucio Gera, “Pueblo, religión del pueblo e Iglesia,” Teología 27-28 (1976), 99-123, aqui: 112, grifo meu. Também em: Azcuy, Galli y Marcelo González, eds., Escritos Teológicos Pastorales de Lucio Gera 1,” 717-744, aqui: 732).

 

 

[8] Carlos Galli, “Epílogo: interpretación, valoración y actualización del pensamiento teológico de Lucio Gera (1956-1981),” en Escritos Teológicos Pastorales de Lucio Gera 1, ed. Azcuy, Galli y González, 867-924, aqui: 920.

 

 

[9] Gera, “Pueblo, religión del pueblo e Iglesia,” 119.

 

 

[10] O texto diz ainda: “Trata-se do estilo de vida que uma determinada sociedade possui, da forma peculiar que têm os seus membros de se relacionar entre si, com as outras criaturas e com Deus. Assim entendida, a cultura abrange a totalidade da vida dum povo (DP 386-387). Cada povo, na sua evolução histórica, desenvolve a própria cultura com legítima autonomia (GS 36). Isso se deve ao fato de que a pessoa humana, «por sua natureza, necessita absolutamente da vida social» (GS 25) e mantém contínua referência à sociedade, na qual vive uma maneira concreta de se relacionar com a realidade.” (EG 115)

 

 

[11] Papa Francisco. “Vídeo-mensagem para o Encontro Mundial da Juventude Indígena no Panamá”. Citado em ChV 186.

 

 

[12] Cf. Antonio Spadaro (ed.), A Sabedoria do Tempo. Em diálogo com o Papa Francisco sobre as grandes questões da vida (Veneza 2018). Citado em ChV 196.

 

 

[13] EN 48 considera primeiro os possíveis limites e deformações da religiosidade popular (superstições, sectarismo, falta de uma verdadeira adesão à fé y à comunidade eclesial), para em seguida destacar seus “muitos valores”, pois ela “reflete uma sede de Deus que somente os pobres e simples podem conhecer”, expressa “generosidade e sacrifício até o heroísmo”, um “profundo sentido dos atributos fundamentais de Deus: a paternidade, a providência, a presença amorosa e constante”, e gera “atitudes interiores que raramente podem ser observadas no mesmo grau em quem não possui essa religiosidade: paciência, sentido da cruz na vida quotidiana, desapego, aceitação dos demais, devoção.”

 

 

[14] Papa Francisco, entrevista concedida ao autor em 6 de setembro de 2015, na Casa Santa Marta.

 

 

[15] “Destacamos las peregrinaciones, donde se puede reconocer al Pueblo de Dios en camino. Allí, el creyente celebra el gozo de sentirse inmerso en medio de tantos hermanos, caminando juntos hacia Dios que los espera. Cristo mismo se hace peregrino, y camina resucitado entre los pobres. La decisión de partir hacia el santuario ya es una confesión de fe, el caminar es un verdadero canto de esperanza, y la llegada es un encuentro de amor…Un breve instante condensa una viva experiencia espiritual.” (DA 259)

 

 

[16] Para aprofundar esses temas: Alexandre Awi Mello, Maria-Iglesia: Madre del Pueblo Misionero. El Papa Francisco y la piedad popular mariana a partir del contexto teológico-pastoral latinoamericano. Buenos Aires: Ágape, 2019, 484-489.503-513.

 

 

[17] Gera, “Pueblo, Religión del Pueblo e Iglesia,” 119.

 

 

[18] Fiorito, “Signos de los tempos,” 8-9.

 

 

[19] “El dinero, la posición social, el ‘status’ – el ‘tener’, en sus variadas formas – hacen con frecuencia olvidar el ‘ser’ cristiano; pero ‘al rascar la pintura, aparece el rancho’,” recordava o Pe. Fiorito já nos anos 70, se referindo ao fato de que a maioria dos argentinos é filho de crioulo pobre ou filho de imigrante pobre: a fé comum que se vivia naquele então como parte de um povo, foi um fator aglutinante e decisivo na integração nacional. (cfr. Miguel Ángel Fiorito, “Signos de los tempos en pastoral y en espiritualidad,” Boletín de Espiritualidad 35, octubre 1974, 9.)

 

 

[20] Por isso em Luján, o Cardeal Bergoglio se referia a Maria como Mãe de todos os argentinos: “Con este modo simple, de encuentro y silencio armó nuestra Madre el santuario: esta es la Casa de los argentinos. La Patria, aquí, creció con la Virgen; la Patria aquí tiene a su madre.” (“Homilía en Luján con ocasión de la celebración del Bicentenario,” 8 mayo 2010). E em Aparecida, o Papa se referiu a Nossa Senhora como Mãe de todos os brasileiros: “¡Qué alegría venir a la casa de la Madre de todo brasileño, el santuario de Nuestra Señora de Aparecida!” (Homilía en la Basílica de Nuestra Señora Aparecida,” 24 julio 2013).

 

 

[21] Juan Carlos Scannone, Sabiduría popular, símbolo y filosofía: diálogo internacional en torno de una interpretación latinoamericana (Buenos Aires: Guadalupe, 1984); Juan Carlos Scannone, “Sabiduría y teología inculturada,” Stromata 35 (1979): 3-18; Juan Carlos Scannone, “El sujeto comunitario de la espiritualidad y mística populares,” Stromata 70 (2014): 183-196.

 

 

[22] Juan Carlos Scannone, “Aportaciones de la teología argentina (II),” 27.

 

 

[23] Para aprofundar esses temas: Alexandre Awi Mello, Maria-Iglesia: Madre del Pueblo Misionero, 820-826.

 

 

[24] Equipo de reflexión teológico-pastoral del CELAM, “Pueblo: temas y opciones claves,” abril de 1978, citado en Alliende, “La cuestión mariana,” 428.

 

 

[25] CELAM, “Pueblo: temas y opciones claves,” citado en Alliende, “La cuestión mariana,” 428.

 

 

[26] CELAM, “Pueblo: temas y opciones claves,” citado en Alliende, “La cuestión mariana,” 428.

 

 

[27] Para Francisco, 12/12/2017, citado em Pope Francis and friends. Sharing the wisdom of time. Chicago: Loyola Press, 2018, iii.

 

 

[28]. Papa Francisco, “Sharing wisdom: the beginning of a new alliance,” em: Pope Francis and friends. Sharing the wisdom of time, 11.

 

 

[29] Papa Francisco. “Homilia na solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus,” 01/01/2020.

 

 

30 gennaio 2020