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A lgreja junto às pessoas idosas

Mons. Antonio Peruzzo
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Breve histórico da Pastoral da Pessoa Idosa 

A Pastoral da Pessoa Idosa (PPI) foi fundada em 05 de novembro de 2004. Sua idealizadora foi Zilda Arns Neumann, mulher de grande intuição. Percebendo que o perfil demográfico no Brasil estava se modificando, evidenciando a presença cada vez maior de pessoas com idade avançada, decidiu iniciar um Programa de acompanhamento às pessoas idosas através de visita domiciliar, experiência que já vinha dando certo no acompanhamento às crianças e gestantes. O início do programa voltado às pessoas idosas, seguindo a mesma metodologia da Pastoral da Criança, deu-se em meados da década de 1990.

A iniciativa tomou novo impulso em 1999, quando a ONU – Organização das Nações Unidas estabeleceu o “Ano Internacional do Idoso”. No mesmo ano, o Papa João Paulo II escreveu a “Carta aos Anciãos”. Em 2003, a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, lançou a Campanha da Fraternidade com o tema: “Fraternidade e as Pessoas Idosas”. Esses fatores favoreceram para que aos poucos fosse ocorrendo um maior esclarecimento e sensibilização sobre a temática do envelhecimento. E contribuíram na organização de estratégias de atenção às pessoas idosas.

No mesmo ano que a CNBB desenvolvia a Campanha da Fraternidade com a temática do envelhecimento (2003), o governo brasileiro sancionou a Lei 10.741, o Estatuto do Idoso, que garante os direitos da pessoa idosa brasileira. Juntos esses fatos, influenciaram na decisão dos Bispos, reunidos em Assembleia (2004), de se iniciar uma pastoral específica dedicada à atenção às pessoas idosas, com foco preferencial às mais vulnerabilizadas do nosso país.

Assim teve início no final do ano de 2004 a Pastoral da Pessoa Idosa, cuja missão essencial é a organização da comunidade e a capacitação de Agentes de pastoral, aos quais chamamos de Líderes comunitários, para que, uma vez capacitados e fortalecidos em seu compromisso cristão e social, possam assumir voluntariamente o acompanhamento de pessoas idosas nas famílias vizinhas, por meio de visita domiciliar mensal.

Contribuição da Pastoral da Pessoa Idosa na Igreja e na Sociedade

Com o objetivo garantir a dignidade, promover o bem-estar, a qualidade de vida e a defesa de direitos da pessoa idosa, os Líderes comunitários (Agentes de pastoral), fazem as visitas domiciliares, preferencialmente àquelas em situação de vulnerabilidade social, fragilidade, pobreza, isolamento ou abandono. Buscam estimular nas famílias e na comunidade, o respeito, a solidariedade e a valorização dos saberes populares.

A Pastoral da Pessoa Idosa tem em vista uma mudança de cultura, que valorize a pessoa idosa, que respeite o seu protagonismo, que a empodere na questão dos seus direitos, que estimule sua autonomia. Através da visita domiciliar, por ser feita de forma sistemática e contínua, sempre os mesmos Agentes às mesmas pessoas idosas, criam-se vínculos entre quem visita e as pessoas visitadas. Há troca de saberes, escuta, valorização das experiências vividas.

Além da pessoa idosa, os familiares também são envolvidos e estimulados a criar um clima favorável, onde possa prevalecer o amor, o bem querer, o respeito. Dessa maneira fortalecem-se os vínculos familiares evitando a institucionalização da pessoa idosa. No Brasil é questão cultural o fato de que a pessoa idosa deve permanecer com sua família e por ela ser cuidada quando se apresentar essa necessidade. Contudo, a Pastoral reconhece que também a família necessita de muita atenção, pois enfrenta igualmente dificuldades para desempenhar seu papel quando a pobreza lhe tolhe as condições mínimas para poder ser cuidadora e protetora de seus idosos.

E justamente por perceber essas carências, a Pastoral tem um papel importante na sociedade no despertar para a necessidade de políticas públicas que favoreçam às pessoas idosas viver com dignidade, apontando para a urgência da criação de serviços públicos (tão escassos e quase inexistentes hoje no Brasil), que venham a atender a uma demanda crescente tanto na área da saúde, quanto social e na defesa de direitos. A Pastoral da Pessoa Idosa tem seu papel protagônico no controle democrático, participando dos Conselhos de Direito, de Saúde, Social, nas três esferas de governo: municipal, estadual e nacional.

Além dos vínculos que vão se criando entre os Agentes da pastoral com as pessoas idosas visitadas e seus familiares, a presença da pastoral também passa a influenciar na comunidade, criando laços de solidariedade. Outra influência positiva é a relação intergeracional que vai aos poucos sendo construída. Crianças e jovens passam a respeitar e dar mais atenção às pessoas mais velhas.

A atitude do Líder comunitário é de respeito profundo às opções religiosas de cada pessoa idosa, contudo, estimula-a a ter uma vivência de sua fé e a cultivar uma espiritualidade, consciente de que a pessoa que ora, consegue encarar as dificuldades com maior resiliência. O papel do Líder na visita domiciliar é ser presença da Igreja junto às pessoas idosas, levando seus afetos e a ternura de Deus junto aos mais descartados da sociedade de hoje.

15 anos de presença da Pastoral da Pessoa Idosa no Brasil

Ao completar 15 anos de existência, a Pastoral celebrou com júbilo em 2019, a presença em 6.164 Comunidades; pertencentes a 1.743 Paróquias; de 211 Dioceses; e 1.068 Municípios de todos os Estados do Brasil. Acompanhando a 178.136 pessoas idosas, 144.342 famílias, através de 25.868 Agentes de Pastoral (Líderes comunitários).

E quem são esses milhares de voluntários do bem? São leigos, leigas, muitas religiosas de um leque diversificado de Congregações. Essas, na maioria se ocupam de formar os Agentes que desempenham a principal missão que é a de visitar. Ocupam-se ainda de organizar e coordenar as equipes desde o nível comunitário até o nível nacional.

Dessa maneira, a Pastoral da Pessoa Idosa responde inteiramente ao premente apelo do Papa Francisco – uma Igreja em saída. É de fato um terreno fértil para a Evangelização. É em nome da Igreja que a Pastoral marca presença junto às famílias, junto às pessoas idosas, que na maioria das vezes já não dá conta de vir participar da comunidade. E mais, a prática da Leitura Orante da Palavra faz parte da formação dos voluntários. É isto que os fortalece e os anima a se dedicarem com perseverança como discípulos/missionários de Jesus Cristo.

*Arcebispo de Curitiba

Responsável pela Pastoral da Pessoa Idosa junto à CNBB

29 gennaio 2020