Vida

“Lancet” contra os direitos do feto

Após a reforma do aborto rejeitada na Argentina, as palavras pouco científicas da revista médica
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A Igreja Católica contra os direitos das mulheres na Argentina”: este é o título do editorial da edição de 18 de agosto da revista médica britânica 'The Lancet'. A referência é à história relacionada à proposta de reforma da lei de 1921 sobre o aborto voluntário, rejeitada por uma maioria de senadores daquele país. Ao sublinhar repetidamente a sua “decepção” por esta decisão, o editorialista cita os bispos argentinos e “o cardeal de Buenos Aires”, que haveria “pontificado sobre os direitos do feto em uma Missa enquanto o debate legislativo estava em curso”, exercendo assim uma indevida “influência da Igreja” no Parlamento de uma “Argentina profundamente católica”.

A leitura editorial sugere – escreveu Don Roberto Colombo no Avvenire  – algumas considerações. Em primeiro lugar, a leveza apressada com que a nova redação do Catecismo é qualificada como uma “mudança na doutrina católica”, onde se trata da pena de morte. […] Com maior força, se a Igreja agora exclui a pena capital por um culpado de crimes muito graves, como poderia supor a supressão de um inocente ainda não nascido, por qualquer motivo e sob quaisquer circunstâncias? Admitindo absurdamente, sem qualquer concessão, que uma suposta lógica do “papa que pode e pretende mudar a doutrina” em alguns de seus pontos – sugerida pelo editorialista – pode ser invocada por alguns para sugerir ao Santo Padre pensamentos a respeito do aborto, são precisamente as mesmas palavras do Papa Francisco, muitas vezes repetidas por ele, para categoricamente excluir esta suposição: ‘o aborto não é um mal menor. É um crime. […] E obviamente, como é um mal humano – como qualquer assassinato – também é condenado pela Igreja (17 de fevereiro de 2016)".

Por fim, acrescenta Colombo, “ao considerar o aborto como uma questão que diz respeito apenas à esfera íntima da ‘reprodução feminina’ e ‘os direitos e autonomia do corpo feminino’, o roteiro considerado mostra um equívoco sobre a identidade biológica e a natureza humana do concebido, que o constitui, como a mãe, como sujeito de fato e de direito para a sua vida e como paciente para a medicina. Esse “esquecimento” científico, antropológico e clínico obstétrico contrasta com inúmeros artigos que aparecem em periódicos médicos internacionais oficiais, incluindo o mesmo “The Lancet” (ver volume 358, ano de 2001, página 54), que tem o título ou por objeto «O feto como paciente»”.

 

12 de Setembro de 2018